sexta-feira, 25 de janeiro de 2008

CANÇÃO DAS MULHERES

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Olha só este texto que encontrei da digníssima Lya Luft, do livro Pensar é Transgredir, editora Record, 2004:
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Canção das Mulheres
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Que o outro saiba quando estou com medo,
e me tome nos braços sem fazer perguntas demais.
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Que o outro note quando preciso de silêncio e não vá embora batendo a porta,
mas entenda que não o amarei menos porque estou quieta.
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Que o outro aceite que me preocupo com ele e não se irrite com minha solicitude,
e se ela for excessiva saiba me dizer isso com delicadeza ou bom humor.
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Que o outro perceba minha fragilidade e não ria de mim,
nem se aproveite disso.
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Que se eu faço uma bobagem o outro goste um pouco mais de mim,
porque também preciso poder fazer tolices tantas vezes.
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Que se estou apenas cansada o outro não pense logo que estou nervosa,
ou doente, ou agressiva, nem diga que reclamo demais.
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Que o outro sinta quanto me dói a idéia da perda,
e ouse ficar comigo um pouco - em lugar de voltar logo à sua vida.
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Que se estou numa fase ruim o outro seja meu cúmplice,
mas sem fazer alarde nem dizendo "Olha que estou tendo muita paciência com você!"
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Que quando sem querer eu digo uma coisa bem inadequada diante de mais pessoas,
o outro não me exponha nem me ridicularize.
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Que se eventualmente perco a paciência, perco a graça e perco a compostura,
o outro ainda assim me ache linda e me admire.
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Que o outro não me considere sempre disponível, sempre necessariamente compreensiva,
mas me aceite quando não estou podendo ser nada disso.
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Que, finalmente, o outro entenda que mesmo se às vezes me esforço, não sou,
nem devo ser a mulher-maravilha, mas apenas uma pessoa: vulnerável e forte, incapaz e
gloriosa, assustada e audaciosa - uma mulher.
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